A síndrome Jardel, pessoas que falam de si próprias na terceira pessoa e sofrem de dupla e às vezes tripla personalidade, continua presente e bem viva na nossa sociedade. Isaltino Morais é mais um exemplo disso.
Durante o julgamento Isaltino referiu-se a outro Isaltino, o que estava a ser julgado, dizendo: "Concluo que o monstro que é ali apresentado é um Isaltino qualquer, não sou eu."
Hoje,
ao ser condenado a 7 anos de prisão efectiva, Isaltino Inocente provavelmente pensará que
a justiça funcionou e que Isaltino Condenado até merecia uma pena maior. É bem feita para o Isaltino Parvo, dirá Isaltino Esperto, aquele que todos conhecemos, o candidato a presidente da Câmara de Oeiras, (e presumível vencedor), o que continuará a receber os envelopes com o dinheiro para os licenciamentos, a usar as “sobras da campanha” em proveito próprio e a transferir para a Suíça (para o milionário sobrinho taxista e sua mulher cabeleireira) avultadas quantias em dinheiro só por entender que é chato pagar impostos em Portugal.
Já o cidadão Isaltino, aquele que procura compreender o que aconteceu ao Isaltino político, afirmou que vai recorrer da sentença pois “
a população de Oeiras continua a acreditar na minha inocência”, disse-o em conferência de imprensa. Ora sendo eu cidadão de Oeiras e dado nunca ter acreditado na inocência de Isaltino, vejo-me encurralado num Isaltínico labirinto ao tentar compreender o que se passa.
Este episódio faz-me lembrar aquele fenómeno psíquico dos dois irmãos gémeos que estavam em lugares distintos do mundo. Um tomava banho e o outro ficava de repente lavado.
Enquanto rezo ao Deus Isaltino para que me ilumine, deleito-me com algumas frases do julgamento que o Jornal Publico hoje publicou:
"Mas os imigrantes que vão para a Suíça enriquecem todos menos o meu sobrinho? A mulher dele, por exemplo, ganha cinco mil euros como cabeleireira."
A propósito das dúvidas do MP sobre o sobrinho, taxista, ter contas tão elevadas.
"Dá-me dinheiro quem quer, quem acredita em mim."
Sobre dinheiro angariado em campanhas, refere que teve ofertas de 50 euros de cantoneiros de Oeiras.
"Até 2005, a lei não impedia a utilização de excedentes das campanhas."
A propósito de cerca de 400 mil euros que apresentou como "sobras das campanhas", admitindo que os vai "utilizando" em parte para "bens pessoais"
'Não tive consciência de que havia um problema fiscal, nunca me passou pela cabeça (...) [na década de 80, a declaração de rendimentos apresentada ao Tribunal de Contas] nunca era levada a sério por ninguém, não valia nada."
A propósito de não ter declarado as contas na Suíça
"Pela dignidade deste tribunal prefiro não ouvir o que estou a ouvir, caso contrário vão pensar que sou malcriado, e eu não sou. Não me posso controlar, não é possível."
Durante as alegações do procurador do MP, antes de sair da sala a meio da sessão.