O Portugal-Alemanha de ontem foi durante os primeiros 70 minutos, enquanto não perdíamos, o espelho do que somos como equipa e país. Apesar das capacidades e meios que dispomos para ambicionar a tudo cedemos sempre perante o dilema entre arriscar assumindo o que queremos ou esperar que o seja destino a vir de encontro a nós, para o melhor ou pior.
Ao invés de enfrentarmos o adversário valorizando o melhor que temos preferimos estrategicamente ou tácticamente abdicar da nossa vontade e submissamente respeita-lo adequando o nosso jogo ao jogo que nos impõe. E foi só quando o marcador traduziu a inferioridade que estava na cabeça dos jogadores e treinador, já agora país, que nos transfiguramos e lá descobrimos que eramos capazes de fazer melhor e se não fosse o tempo escassear e aquela pontinha de azar até que conseguíamos. Inebriados por esta finta do destino ainda saímos sorridentes e confiantes de que tudo não passou de percalço, uma injustiça, e que se fizermos precisamente o mesmo na próxima a sorte nos sorrirá.
Ao contrário do que Virgílio profecia na Eneida; “O Sucesso encoraja-os. Eles podem porque pensam que podem”, é uma pena que Portugal precise sempre desse tónico do abismo para à beira do precipício e na iminência da derrota acordar e partir para a luta trocando a fé por trabalho e o desejo por vontade.