É do Futuro que vos escrevo. Pequena aldeia do concelho de Grândola, distrito de Setúbal.
Assava alegremente uma tramitação legal à padeiro, a servir com um parecer jurídico sobre a criação de vuvuzelas em cativeiro, quando me ligaram do governo pedindo um alvitre sobre a colocação de portagens nas SCUTS. Comecei por recusar alegando motivos pessoais, nomeadamente o facto do mundial ainda ir a meio, mas apelaram ao meu patriotismo e (sentimentalista como sou) lá acedi em dar a opinião a troco duns parcos cinco milhões de euros a transferir antecipadamente para a minha conta offshore de Cantanhede.
Por estar no Futuro abordo este tema de peito feito dando-vos conta do que já aqui se passa. Era governador civil da aldeia, há uns anos atrás, o sanguinário Radamel Falcão sendo o seu cruel tesoureiro Ernesto Farias quando numa reunião de sábios no café do coxo, Mariano para os amigos, concluíram que as contas da aldeia estavam tão mal que nem dinheiro havia para o essencial - as minis.
E foi ao ver o coxo atrás do balcão de bandolete na cabeça que Farias teve a mais brilhante ideia da sua curta carreira de tesoureiro. E porque não colocar uma bandolete munida de um chip na cabeça de cada cidadão? Assim, e por débito directo em conta, cobramos os impostos municipais, as entradas em espectáculos, as idas às casas de alterne, as portagens sobre a ponte pedonal e logo inventaremos mais alguma coisa para taxar. Excelente, exclamou Falcão engasgando-se com um tremoço. Publico amanhã em edital a obrigatoriedade do uso da bandolete. Informa o policia Alves que podem decapitar qualquer cidadão que não a use e que só são validas as comercializadas na loja do Meireles. Ele depois que nos dê 60% das vendas. Quanto ao resto da história é o que se sabe. Veio o aquecimento global e no Futuro morreram todos.
Mas a ponte que aqui deixo é que os chips das matrículas para cobrança das portagens nas scuts são como as bandoletes. Inicialmente vão servir apenas para cobrar as portagens, depois junta-se os impostos sobre circulação e a obrigatoriedade da inspecção periódica e seguidamente estão informar o posto da GNR mais próximo que o condutor além de circular sem cinto vai a falar ao telemóvel em excesso de velocidade para se encontrar com a (o) amante. Assim sendo concordo plenamente com a ideia pois cresci a ver o Zé Maria no Big Brother e o país precisa de uma nova animação, os que disserem que é apenas porque tenho um comerciozito de chips quitados além de revelarem má fé estão também a ser invejosos.
Há no entanto que verbalizar um ponto. A justiça do pagamento das portagens. Na altura da construção das Scuts a primeira classe da escola primária nossa Senhora da Conceição no Fundão ainda tentou explicar ao nosso mais famoso refugiado, o Engº Guterres, que o modelo criado só funcionário no Dubai à lei do petróleo. Explicaram-no por números e um menino de 6 anos fez mesmo um desenho, mas o Engº não percebeu. Respondeu-lhes que era melhor sermos todos a pagar porque assim era melhor e se o mundo acabasse amanhã esse problema nem existia. O menino, hoje com 18 anos, ainda guarda o desenho com os carros, a estrada e a portagem, no entanto a lógica que lhe escapa é que continuamos todos pagar e haverá uns, os utilizadores que até aqui eram os privilegiados que pagavam (via impostos) e usufruíam da coisa, que pagam agora duas vezes. Nos impostos (porque o modelo jamais será sustentável) e nas portagens.