O PCP, esse museu vivo, é sem dúvida uma caixinha de surpresas. No inicio da semana surpreendeu-nos com este triste comunicado quando se devia congratular com morte desta inqualificável criatura (Kim Jong-II). A meio da semana conseguiu ir ainda mais longe opondo-se a um voto de pesar na Assembleia da Republica pela morte de Vaclav Havel, herói da revolução de Veludo na antiga Checoslováquia.
Não me revendo em nenhuma posição que este partido defende nutro no entanto alguma simpatia e respeito por militantes seus. Admiro a inteligência e capacidade argumentativa de Bernardino Soares e os seus malabarismos para defender o indefensável. Em Jerónimo, a capacidade de trabalho, seriedade e dedicação a uma causa e pouco mais. Imagino assim a decepção que será para qualquer militante ou simpatizante comunista, que verdadeiramente o seja, ao lembrar o ponto número um do programa/manifesto do PCP, pelos vistos esse grande equivoco, e que diz o seguinte:
O Partido Comunista Português, partido político da classe operária e de todos os trabalhadores, inteiramente ao serviço do povo português e de Portugal, tem como objectivos supremos a construção do socialismo e do comunismo - de uma sociedade nova liberta da exploração do homem pelo homem, da opressão, desigualdades, injustiças e flagelos sociais, sociedade em que o desenvolvimento das forças produtivas, o progresso científico e tecnológico e o aprofundamento da democracia económica, social, política e cultural assegurarão aos cidadãos liberdade, igualdade, elevadas condições de vida, cultura, um ambiente ecologicamente equilibrado e respeito pela pessoa humana.
A Coreia do Norte é e sempre foi o contrário de tudo isto. Nos últimos anos morreram ou estão em risco de morrer mais norte-coreanos pela fome do que nas guerras do Iraque e Afeganistão juntas e contra as quais o PCP veemente sempre se bateu. É pois vergonhoso a direcção do partido mostrar esta hipocrisia de apresentar condolências à direcção do partido “amigo” ou “irmão” do Trabalho da Coreia pelo falecimento do querido líder cujo nascimento estava associado ao aparecimento de uma nova estrela e de um duplo arco-íris, propaganda que estranhamente o PCP ainda não comentou.
Quando enterrarem o defunto e o seu filho assumir o poder, líder ainda mais extraordinário e carismático, neste caso o seu nascimento está associado à transformação de rios em correntes de sumo de laranja e relva em bifes, tal é o delírio, provavelmente o PCP fará um novo comunicado a desejar à governação de Kim Jong-un sorte no prosseguimento do ideal comunista, que alguém tão bem caracterizou com essa forma de monarquia totalitária onde os donos do poder se apoderam dos bens públicos, roubam os bens privados, e distribuem ao povo fome e miséria.
Já Vaclav Havel, persona non grata nas hostes comunistas, cometeu esse terrível crime de liderar um país rumo à democracia abandonando o comunismo e mais grave ainda, sendo uma pessoa da cultura, pelas peças que escreveu satirizando o antigo regime comunista da Checoslováquia quando integrava o Pacto de Varsóvia.
É certo que Vaclav Havel não foi iluminado como Kim Jong-un, o “farol de esperança” ou “uma grande pessoa nascida no céu”, forma como é conhecido o futuro líder Coreano que tem poderes tão extraordinários que segundo as publicações oficiais, ainda criança e após ter aprendido as primeiras letras, compôs um “inestimável poema erótico” que produzia orgasmos generalizados sempre que era lido em público. Sem duvida que é disto que comité central comunista precisa para regressar à sua triste realidade ou pelo menos à terra.